Sempre me disseram que a água era azul,Mas ela aqui é castanha-esverdeada.O azul estava tão lindoEm tudo o que já era.O mundo condiziaE a água era o reflexo do céuComo pedaços de paraísoQue se pudesse tocar.Tenho os pés na água,Está fria como tem de ser,Fria com um pouco de dor.Não foi assim que me contaram!Porque é tão quentinhoNas histórias da criação humana,É como as palavras aconchegantesAo colo do pai.Passam os patos perto das minhas pernas,Não são brancos,Mas são bonitos.Tão bonitos quanto a água do lago.É castanha-esverdeada,Como se a belezaFosse um desarranjo da Natureza.Mas não deve ser azul, o lago,Deve ter os tons da terraPara poder ser verdadeiro.Eu não existo.Sou um sonhoQue, por ser sonho,Não pode ser amado.Amado verdadeiramenteComo o amor entre as árvoresEm volta do lagoE a água castanha-esverdeada.Mas eu sou uma ilusão.Esqueci-me de perceber os outrosPara me entender.E estou só, aqui no lago,Roçando as pernasPelas penas dos patos.Não sei o que é o amor,Mas queria tanto poder amar.Ser amada por um.Um só!Para vestir de perfeiçãoEste meu mundo inacabado.Não sei se é isso.Estou aqui, ouvindo sons de conversas distantes,E um repuxoQue pousa sílabas sobre uma luzQue vem da profundidade da água.Sílaba a sílaba,O repuxo expande palavras na águaQue me bate as pernasComo uma união fantasmagórica.Eu sei lá, senhor Repuxo,Gostava tanto de amar!