Não fiz nada.Nunca fiz nadaPara que merecesse o que me fazes...Dói, dói-me a pele pisada que trago.Dói... dói-me não o que me bateste,Mas o que ficou por dizer.O nosso filho está no quarto.O meu filho está no quarto.Bates-me.Bates com a força da injustiça.E eu choro,Não sei mais senão chorar.Choro pelo meu filho,Choro por mim.O meu filho está no quarto trancado,Ouço-o chorar...Não te posso acudir, meu filho,Estou no chão,Dorida das pancadas que apanhei.Mas ouve, filho, não tenho culpa!Não fiz nada do que o teu pai diz!Acredita em mim, por favor,És a última pessoa que me resta, amor!Ele diz que ando com outros.Filho, não fiz nada.Sou a mais fiel das esposas,Acredita na tua mãe!Dói-me a pancada das tuas mãosQue outrora souberam amar;Dói-me a injustiça de não ter vozPara dizer que ainda te amo!O teu pai acusa-me do que não fiz,Sou infeliz como as mulheres têm de ser.Meu filho, não saias do teu quarto.Tapa os ouvidos e adormece no sonho,Escuta a melodia do mundo que está para vir.Tu és a minha esperança, meu bebé,Olha bem a tua mãeQue envelhece aprisionada no sofrimento.Aperta-me bem junto ao teu coração.Filho, no amor tens de aprender a dar,Também terás de sofrer, meu bom filho,Para seres um bom amante.Filho, nunca faças o que o teu pai me faz!Não faças sofrer a pessoa que te ama!Olha bem a tua mãeE descobre aquele lugar onde podemos ser todos felizes...