O pescador de sonhos
O pescador de sonhos
Acrílico e carvão s/ tela 110 cm x 81 cm
Pintura de Artur Oliveira
                                                                 

Não fiz nada.
Nunca fiz nada
Para que merecesse o que me fazes...

Dói, dói-me a pele pisada que trago.
Dói... dói-me não o que me bateste,
Mas o que ficou por dizer.

O nosso filho está no quarto.
O meu filho está no quarto.
Bates-me.
Bates com a força da injustiça.
E eu choro,
Não sei mais senão chorar.
Choro pelo meu filho,
Choro por mim.

O meu filho está no quarto trancado,
Ouço-o chorar...
Não te posso acudir, meu filho,
Estou no chão,
Dorida das pancadas que apanhei.
Mas ouve, filho, não tenho culpa!
Não fiz nada do que o teu pai diz!
Acredita em mim, por favor,
És a última pessoa que me resta, amor!

Ele diz que ando com outros.
Filho, não fiz nada.
Sou a mais fiel das esposas,
Acredita na tua mãe!

Dói-me a pancada das tuas mãos
Que outrora souberam amar;
Dói-me a injustiça de não ter voz
Para dizer que ainda te amo!

O teu pai acusa-me do que não fiz,
Sou infeliz como as mulheres têm de ser.
Meu filho, não saias do teu quarto.
Tapa os ouvidos e adormece no sonho,
Escuta a melodia do mundo que está para vir.

Tu és a minha esperança, meu bebé,
Olha bem a tua mãe
Que envelhece aprisionada no sofrimento.
Aperta-me bem junto ao teu coração.

Filho, no amor tens de aprender a dar,
Também terás de sofrer, meu bom filho,
Para seres um bom amante.

Filho, nunca faças o que o teu pai me faz!
Não faças sofrer a pessoa que te ama!
Olha bem a tua mãe
E descobre aquele lugar onde podemos ser todos felizes...

Poesia de Ricardo Oliveira