Objectivos obtusos
Objectivos obtusos
Acrílico e carvão s/ papel 65,5 x 41 cm
Pintura de Artur Oliveira
                                                                 

Quando dei por mim,
Já a meio da viagem,
Reparei que carregava um peso imenso.
Era o peso da Vida. Diziam…
E o peso derreava-me as costas,
Torcia-me a coluna.
Era a Vida. Comentavam…

A meio do caminho, enfim,
Pude ver por que me fazia correr.
Corro, ainda que desengonçado,
Corro à procura do que falta para me cumprir.
E, por isso, corro, corro para a perfeição
Que não pode haver.
Corro para o sonho:
Um sonho exacto e profissional,
Um sonho pleno de rigor e material…

Levo os olhos fechados
Para não ver tudo o que poderia ser se…
Mas o peso manda:
E eu obedeço, cego, como o homem deve ser.
Obedeço e trabalho,
Completo, na lógica geométrica da ficção
Que me foi ensinada como sentido.

Mas houve um dia em que dormi.
E ouvi a voz mais íntima da humanidade.
Que falta faz ao Homem!...
Escutei:
Não busques a excelência,
Toca-te com a felicidade!

Poesia de Ricardo Oliveira