A selecção do poeta
A selecção do poeta
Acrílico e carvão s/ tela 2 x 100 cm x 81 cm
Pintura de Artur Oliveira
                                                                 

A verdade daquilo que somos
São as palavras dos outros.
Cada palavra é uma verdade circular
Que envolve a visão.
Desconheço aquilo que quase sou
E assumo que a cadeira em que me sento
É uma cadeira verdadeiramente.
Por isso, sento-me nela descansado e apaziguado.

Mas, num golpe de génio revolucionário,
Levanto-me
E sigo a estrada feita
Que me conduz ao sítio onde estou…
Aí, sinto impossivelmente algumas palavras
Passearem, em grupos, olhares de desdém
Para aquelas outras, mendicantes
Por um pouco de poesia.

Amor é um snob
De currículo vasto,
Participações gloriosas
Em gloriosos poemas.
Ri, em companhia
Do regozijo, languidez, plangência e hilaridade.
Ao lado, a utopia
Participa filosoficamente num debate
Com o infinito e o imensurável,
Sob o olhar aprovativo de Deus.

Mas a omnipresença justa de Deus
Esqueceu-se da telha, do carro
E do cano de escape, também o telemóvel antiquado
E a mesa de rude madeira ficaram de parte,
A um canto, esmolando igualdade…

Reconheço o homem nas palavras
E, na ambiguidade paradoxal,
Antecipo o fim possível da minha visão;
Por isso, no limite da verdade que me oferecem,
Semeio mais umas palavras de igualdade
Para divertir a humanidade,
Neste jogo eterno
Em busca da verdadeira liberdade…

Poesia de Ricardo Oliveira